domingo, 28 de dezembro de 2008

decupagem natalina

Plano #62

(Entrevistada)

"Eu nunca saí com lavrador, porque não gosto de trabalhar na roça, não gosto de aproveitar a colheita. Casei-me com um vaqueiro porque gosto muito de leite e acho muito bonito ver quando o gado sai do curral e quando entra à tarde.”

...

nada mais justo.

-

deu pra ti, baixo astral
vou pra porto alegre,
tchau.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Gatos Empoleirados (II)

Por Pips
a Amanda Brencys e Gabriel Tonelo

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Gatos Empoleirados

As noites à Boulevard de Rochechouart servem apenas para que o vento leve embora os papéis deixados pelos vendedores de Malboro na porta do metrô. Ainda consigo sentir o cheiro dos pombos que voaram durante o dia por aqui. Muitos deles. Sujos, doentes e cegos. Um bairro de africanos. Longe de ser algum tipo de comentário racista, mas quando os africanos, e assim que gostam de ser chamados, vêm para a França não se consideram franceses. Nem seus filhos ou netos nascidos aqui.

O dia serviu a mim como luz para a leitura, não sai de casa para comer ou apaziguar as idéias. E ainda não tirei a idéia de que sextas-feiras são mórbidas e hoje é sexta-feira. Talvez devesse ir até o Senna, beber um vinho e ouvir os estudantes de intercâmbio tocarem músicas em inglês enrolado, pelo vinho ou pela péssima dicção. Isso pouco importa.

Devo ressaltar que apenas sairei esta noite porque tenho saudades de Amanda. Da sua voz grossa, como a de uma cantora negra de R&B nascida no Mississipi, na vida passada fora uma escrava provavelmente, que cantava as dores de um dia ao lavar os poucos trapos que tinha. A voz exalta sua beleza caucasiano-italiana, com olhos levemente puxados, sorriso que mostra apenas os dentes de cima, uma beleza sem mácula do tempo, do ambiente e das pessoas. A única marca em seu rosto talvez seja das lágrimas que deixa cair. Sensível, amável e volúvel – eterna insatisfeita.

Vou sem avisar. A única vantagem de ser sexta-feira é que eu sei onde ela estará, espero conseguir convencê-la a ir para outro lugar. Com certeza estará no Louvre, aproveitando que as sextas-feiras à noite o museu fica aberto e não é preciso pagar. Ela estará onde há peças egípcias. Visto um casaco surrado do Bruno, dono do prédio onde loco um apartamento, que guarda um maço de cigarros e um cantil vazio no bolso interno – que espera desesperadamente, quase como uma criança, ficar cheio até o gargalo. Todavia, dessa vez não irei de carro. Paris de carro é como beber vinho sem fazer sexo após.

O metrô é a melhor opção. Algumas estações, algumas pessoas estranhamente parisienses – deslocadas em seu próprio habitat. “Odeio Paris no verão”, diz uma loira que não sabe como dosar o perfume que usa. A maior reclamação das pessoas que não conseguem viajar no verão é que a cidade não é para quem mora nela, é apenas para os estrangeiros. A classe média delira com nossas estátuas, museus, catedrais e no final vai até a Virgin para comprar algum eletrônico. Para falar a verdade, o que importa? O problema de Paris são as sextas-feiras, o resto é suportável.

Chego ao Louvre pouco depois das nove da noite, esperando ansioso para vê-la, mas antes preciso de um cigarro-calmante, de um alívio ao soltar o ar que sai da minha boca. O cigarro é meu calmante e nada me faltará, apenas ela. O que há de tão belo em Paris que minha fumaça só faz enaltecer? Será que estou precisando de uma boa conversa, um bom vinho tinto, um bom vento nos cabelos, uns bons guris me pedindo trocado, um café amargo; a verborragia da amargura. Não interessa.

Passo por esfinges, por pinturas e chego até as múmias. Lá está ela, vestindo uma blusinha preta, um sutiã vermelho (noto por causa das alças), um cachecol amarelo em volta do pescoço, calças jeans e sua bolsa de sempre, a do gato Felix. Amanda observa cuidadosamente os gatos empoleirados dos faraós. “Chats Perchès”, lembro. Ela adora gatos e eles a adoram. Quando está com Kittie, sua gata, Amanda conversa com ela pelos olhos, até em voz alta como Alice; recebe carinho, dá o colo para a soneca felina e recebe a confiança depositada em sete vidas não gastas. Ela permanece fixa ao ver os gatos, move apenas a ponta do nariz, como se evitasse chorar ver tanta beleza em apenas uma peça. “Salut, ma chérie”, falo com a voz calma para não assustá-la, “Servus, lieber Freund.”, sempre que pode, ela responde em alemão. E não existe nada mais bonito em uma mulher do que dominar o idioma Alemão. Ela sabe disso e me sorri de volta. Não sei se sou eu, minha visão embriagada por seu sorriso ou se é o ar que trouxe de fora no peito, mas ela estava inominável, inefável, inebriante e inquieta. Amanda era impessoal e isso que despertava meu interesse por ela, seu estado de estar fora dos padrões ou intrinsecamente ser uma pessoa que o mundo não merecia; um felino que ao andar chama a atenção, mas querendo sempre estar no seu canto, no colo de alguém, deixando o tempo levar suas vontades. Amanda era aquele sonho que não lembramos na manhã seguinte, mas temos certeza de que foi bonito.

Ao sair do museu, nada mais apropriado: um vinho, um pequeno espaço a beira do Senna e Amanda. Ela deita no meu ombro e chora sem falar nada. O movimento é incógnito. E para ser sincero, não espero motivos, acasos e verdades, espero apenas que ela possa confiar suas lágrimas no meu casaco emprestado. Confio minha mão com a dela. Já acomodada ao meu silêncio, ela ronrona, esfrega o cabelo e quando me abraça é como se quebrasse minha espinha. O paraíso está longe. E eu não sei como eu poderia esquecer o que ela é para mim. O que representa não apenas fisicamente, quando faz minhas pernas tremerem, mas espiritualmente quando faz eu me sentir em paz. Quando me faz sentir que uma vida é o suficiente para estar com ela. O vento leva suas lágrimas.

E era bem quando a noite estava encontrando o dia e a Lua, nosso satélite, deixava o céu, que Amanda repousou sua cabeça no meu colo. Aconchegando-se levemente, sem fazer muito esforço. Ela aperta mais forte minha mão e se entrega ao sono em meio à música que ainda tocava em sua cabeça. “Ne me quitte pás/ Je t'inventerai/ Des mots insensés/ Que tu comprendras”, ela canta em um tom inaudível. Consegui contemplar sua respiração e seu sorriso que demonstrava que estava em um sono profundo, quieto e sossegado como há tempos precisava; sonhou com o que devia sonhar e nisso eu não interferiria.

“Não ouse esquecer de mim”, sussurrei em seu ouvido passando a mão pela maçã rosada do rosto. Ela respirou fundo: “Nie...”, foi a resposta que recebi. Essa foi a última vez que ela sonhou comigo, se é que era comigo. Adormeci também. Quando acordei, ela havia sumido.

Era dia em Paris novamente, voltei para o metrô.

Sentei no vagão olhando para um velho senhor que tocava Sinatra em uma sanfona. Olhei para o assento perto da janela - vago. Um gato branco de pêlos longos pulou do banco de trás para o que estava ao meu lado. Meu espanto roubou as palavras que ainda me sobravam. Ele permanecia estático como se observasse a paisagem subterrânea do metrô. “Um gato branco”, disse antes que ele pulasse no meu colo e me encarasse como se há anos estivesse me procurando. Serei um gato empoleirado, na próxima vida, ronronando a preguiça.

sábado, 18 de outubro de 2008

disarm

eu queria saber o que você pensa quando vai se deitar
quando está sem arma ou escudo

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

!!!

A ISLÂNDIA FALIU.

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(devidos créditos ao joão)

domingo, 12 de outubro de 2008

...

esquisito.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ein wort stirbt aus

es gibt kein Grund, auf eine Fremdsprache zu schreiben.


(entschuldigung.



ich meine das.)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

outra

prá maria paula, 200 e prá xavantes, 79

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Regresso ao Lar

Chegas - se é que se pode chamar
regresso ao gesto anónimo
e vacilante com que vais deixando
para trás a madeira suja dos degraus.

Nunca saberás se te trouxe
um táxi, que música te roubou
- ou se a falta de dinheiro
te fez apanhar o último autocarro.

Sabes apenas que encontraste
as chaves e que não despiste
a roupa onde volta a ser teu corpo.
Mas é-te impossível recordar
os rostos, o que disseram ou calaram,
o preço pago por tanto esquecimento.

Foi uma noite banal, portanto.
Nem amor nem sexo - apenas
a perfídia de seres tu, o espanto
com que ao fim da tarde acordas
e percebes que o mundo
não teve o bom senso de acabar.

Por isso sais - ou foges (vai dar
no mesmo) quando os vizinhos
regressam de mais um dia proveitoso,
dedicado à mecânica reprodução
do horror, da velhice e das taxas de juros.
Eles e tu movidos pela mesma nenhuma razão.

Não há, de facto, diferença.
Ou cedo deixarás de haver
e é como se nunca tivesse havido.
Os primeiros dentes de um filho
deixam-nos certamente tão felizes
como o tango que acompanha agora
estes versos escritos quase à hora de acordarem.

O desespero tudo permite, tornando
equivalentes o livro que acabaste de fechar
e as infindáveis telenovelas com que
premeiam o cansaço e garantem o sono.
Adormecendo eles e tu, apesar da diferença
horária, sobre a imagem nula daquilo
a que insistimos em chamar "amor".

Talvez amor. Não sabes. Desces
de novo os mesmos degraus,
fugindo da bonança que não há
e do irrmediável flagelo dos teus passos.
Pouco tens a dizer desse
desencontro, da noite fria que te espera.

Acreditas, uma vez mais, na morte.


- Manuel de Freitas

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

duas

1)

O que é, o que é?

Clara e salgada. Cabe em um olho e pesa uma tonelada.
Tem sabor de mar, pode ser discreta.
Inquilina da dor, morada predileta.
Na calada ela vem, refém da vingança.
Irmã do desespero, rival da esperança.
Pode ser causada por vermes e mundanase o espinho da flor cruel que você ama.

Amante do drama, vem pra minha cama por querer.
Sem me perguntar, me fez sofrer
E eu que me julguei forte, e eu que me senti,
Serei um fraco quanddo outras delas vir.
Se o barato é louco e o processo é lento, no momento deixa eu caminhar contra o vento.
O que adianta eu ser durão e o coração ser vulnerável?
O vento, não. Ele é suave mas é frio e implacável.

É quente.
Borrou a letra triste do poeta.
Só.
Correu no rosto pardo do profeta.
Verme, sai da reta. A lágrima de um homem vai cair.
Esse é o seu B.O., prá eternidade.
Diz que homem não chora, tá bom, falou.
Não vai pra grupo, irmão, aí, Jesus chorou.

(M.B. - [que naturalmente não é o Manuel Bandeira])

***

2)

Os melhores documentários do mundo devem estar escondidos em fitas de viagem jogadas no fundo do armário.

sábado, 20 de setembro de 2008

sobre a cegueira:

Nem tento falar muito sobre filmes que custam caro porque sou péssimo pra isso. Mas vale dizer que gostei, de verdade. Tudo bem arrojado, principalmente no início do filme... chegou a causar dispersão do público e falatório na sala.

Me agradou bastante.

Parabéns pro Meirelles.

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sans soleil


como pode, sr. marker?

sábado, 6 de setembro de 2008

matemática, alemão, crianças

- Ja Voll. du musst diese Zahl für fünf.. dividir. como é mesmo, Ivan? verteilen? teilen?

- Teilen.

- Stimmt. Für fünf teilen... dann gibt es die Zahl pro Monate, die man bezahlen musst.


Aprontando em Versailles



fiquei pequeno.

domingo, 31 de agosto de 2008

etwas über Liebe

"Os humanos se protegem da perda do ser amado evitando as peripécias e as decepções inerentes ao amor genital e transformam esse amor num sentimento inibido quanto a sua finalidade, transformando esse amor exclusivo em amor pela humanidade.

Mas todo amor que não escolhe perde seu valor, pois é injusto em relação ao seu objeto e, depois, porque nem todos os humanos merecem ser amados.

Meu amor é algo infinitamente precioso, que eu não tenho o direito de desperdiçar sem prestar contas.

Se amo um outro ser, de alguma forma ele tem que merecer.

Ele o merece se é tão melhor que eu e me oferece a possibilidade de amar nele meu próprio ideal."

domingo, 24 de agosto de 2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Comunicabilidade

Eu costumava deixar o celular com a campainha alta ao lado da cama , antes de dormir.

Agora deixo no modo silencioso.


(mas ainda não desligo.)

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Me Convencem

1)





Wait.

They don't love you like I love you.


***

2)


Se Fossemos Infinitos

Fossemos infinitos

Tudo mudaria

Como somos finitos

Muito permanece.

na Xavantes, 79;

na Maria Paula, 200;

na Christoph-Probst-Straße, 12;

na Edilberto, 1000.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Gatos Empoleirados

Dia desses uma dessas pessoas que normalmente eu acharia "Zé Ruela" tinha algo escrito no Orkut que me fez pensar. Algo do tipo: "Pouco me importa quantas línguas você fala, que lugares visitou, quantas faculdades fez. Eu quero saber o que você tem na cabeça, como você pensa.".
Não sei ao certo o porquê de ter me sentido atingido com isso, mas aconteceu.

***
Hoje pela primeira vez revi o material que filmei na Europa. Aliás, parece que as coisas andam se conectando de um jeito muito estranho. Impossível não citar o Chris Marker, nesse caso... além do lance dele ser relacionado com viagens em geral, alguns fatos pontuais que aconteceram na viagem me chamaram a atenção.

Estava em Paris, no apartamento da Ana e da Maíra, conversando sobre o Louvre. Alguém comentou sobre as Múmias de Gato que estão lá. Tinha feito algumas imagens dessas Múmias porque elas haviam me saltado aos olhos.

De volta a Campinas, o Fernando assistia na sala o Chats Perchès, primeiro filme do Marker que vi (que dá o título ao blog), há uns seis meses. O Fernando, com quem já havia comentado sobre as Múmias de Gato do Louvre, ao pausar o documentário, pergunta-me se eram aquelas as múmias. Na tela, a câmera de Marker, tão leve e digital como a minha, descrevia-as. Conhecendo seu trabalho, digo que elas, as Múmias, faziam muito mais sentido para ele do que para mim, mas em todo caso me senti próximo de Marker de um jeito esquisito.



Durante a viagem, os filmes de Marker povoavam a minha cabeça e lembro até de ter comentado sobre ele para algum amigo, enquanto estava lá. Mas não lembrava da imagem das Múmias e o fato de ter escolhido-as para filmar me sopra ao ouvido que não posso deixar isso de lado... vale dizer que minha lista do peer-to-peer está cheia de Chris Marker, desde então.

***

Tem outra coisa que vi nas imagens da Europa que, do mesmo modo, são relacionáveis com uma descoberta recente. E, do mesmo modo, filmei sem saber que eram relacionáveis. Mas fazem sentido para mim e para outra pessoa, que ainda não conheço.